Projeto Floresta da Serra do Açor vence Prémio Nacional da Paisagem 2025
O Projeto Floresta da Serra do Açor é o grande vencedor do Prémio Nacional da Paisagem 2025. O galardão foi entregue esta quarta-feira ao presidente da Câmara Municipal de Arganil, Luís Paulo Costa, pelo Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado, em sessão realizada no auditório da Direção-Geral do Território, em Lisboa.
Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Arganil revelou-se “verdadeiramente honrado com a distinção e privilegiado por fazer parte de um projeto inspirador, com tamanho impacto e capacidade de valorizar e transformar a paisagem que faz parte da identidade do concelho de Arganil”.
No terreno desde 2021, o projeto está a intervencionar 2.500 hectares de terrenos baldios severamente afetados pelo incêndio de 2017, através da plantação de 1,8 milhões de árvores maioritariamente autóctones. O plano de recuperação e gestão da paisagem, com um horizonte de 40 anos, assenta num modelo inovador e sem precedentes em Portugal, agregando entidades públicas, privadas e as comunidades locais em torno do mesmo objetivo.
Deste modelo colaborativo e participado fazem parte o Município de Arganil; o Grupo Jerónimo Martins, que assegura o financiamento de 5 milhões de euros no âmbito do mecenato ambiental; a Escola Superior Agrária de Coimbra, responsável pela validação científica e pelo desenvolvimento dos modelos de silvicultura, garantindo o acompanhamento técnico de todas as operações; e as 11 comunidades locais, cujos terrenos baldios são geridos pela F.S.A. – Floresta da Serra do Açor – Associação, da qual são associadas.
Mais do que um projeto de reflorestação, a Floresta da Serra do Açor afirma-se como um exemplo nacional de resiliência, sustentabilidade e planeamento florestal. A sua abordagem estruturada, participada e de largo alcance torna-o um modelo replicável para outros territórios que enfrentam desafios semelhantes de recuperação pós-incêndio.
Para Luís Paulo Costa, projeto Floresta da Serra do Açor “demonstra que é possível olhar em frente com confiança, construindo medidas de fundo que reforcem a resiliência do nosso território e protejam pessoas e bens”. Trata-se, acrescenta, de um “investimento sério, consistente e inspirador, concebido para deixar um legado duradouro às gerações futuras, tornando-se um verdadeiro símbolo de resiliência e de confiança no futuro”.
Durante a sua intervenção, o Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território felicitou o Município de Arganil pela conquista do prémio e destacou o alcance transformador da iniciativa. “Estamos a devolver a esperança não só a Arganil como a todos os que possam replicar este projeto nos seus territórios”.
Referiu ainda que “o que a Câmara Municipal de Arganil encontrou neste projeto foi a capacidade de juntar todos, de chamar todos, para em conjunto encontrarmos soluções de sucesso”, evidenciando o caráter colaborativo que esteve na base da distinção.
O governante abordou igualmente os desafios estruturais do concelho, lembrando que “no caso de Arganil estamos a falar de um território em que os fatores económicos são mais difíceis. Se conseguirmos trazer economia ao território, como a Câmara Municipal fez, envolvendo os compartes, envolvendo as pessoas, envolvendo a Jerónimo Martins, estamos a dotar esta área de fatores económicos que podem fazer com que alguns jovens fiquem no território.”
O Prémio Nacional da Paisagem 2025 confirma o papel pioneiro e inspirador desta iniciativa, que se assume como uma referência na gestão florestal em Portugal e um exemplo concreto do que pode ser construído quando o compromisso com o território se traduz em ação continuada e visão de futuro.
A força de regenerar a partir das raízes
O incêndio de agosto de 2025, que atingiu 40% do concelho de Arganil e afetou cerca de 100 hectares já reflorestados, pôs à prova a robustez e a pertinência do Projeto Floresta da Serra do Açor. A resposta do território revelou-se, porém, reveladora: poucas semanas após a passagem do fogo, observou-se uma rebentação vegetativa abundante, com taxas de sobrevivência entre 50% e 80% das espécies folhosas em povoamentos com três a quatro anos. Estes resultados confirmam a resiliência das espécies autóctones e evidenciam a importância de um modelo de intervenção que conjuga conhecimento técnico, planeamento de longo prazo e respeito pelo ritmo da natureza.
Espécies autóctones e estratégia de resiliência
A estratégia adotada pelo Projeto Floresta da Serra do Açor privilegia espécies folhosas autóctones menos suscetíveis ao fogo — carvalhos, bétulas, sobreiros, medronheiros e castanheiros. Estas espécies possuem grande capacidade de regeneração após incêndio e garantem uma melhor adaptação às condições do solo e do clima, reforçando a identidade ecológica e cultural do território. A diversificação reduz o risco de incêndios catastróficos e aumenta a resiliência da floresta às secas, pragas e ondas de calor, criando um mosaico florestal mais estável e menos vulnerável.
O Prémio Nacional da Paisagem
Organizado bienalmente pela Direção-Geral do Território, o Prémio Nacional da Paisagem distingue projetos de excelência que valorizam a paisagem, promovem intervenções sustentáveis e reforçam a aplicação da Convenção Europeia da Paisagem em Portugal. O vencedor nacional pode ainda ser candidato ao Prémio da Paisagem do Conselho da Europa, representando Portugal na distinção de âmbito europeu.





